segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ciclos de formação humana

Os novos tempos e os novos contextos exigem cada vez mais que o professor esteja em contato com todas as informações possíveis e acessíveis para o seu bom desempenho profissional. As modificações no âmbito educacional exigem cada vez mais preparação, reflexão, tanto teórica quanto prática,para aprimorar e ampliar conhecimentos essenciais para o ato de educar. A formação em ciclos é um desafio. Marília Gouvea de Miranda em seu artigo "Sobre tempos e espaços da escola: do princípio do conhecimento ao princípio da socialidade" fala sobre a passagem da escola centrada no ensino para a centrada na aprendizagem, e que a proposta da Escola Ciclada é centrada na aprendizagem visando promover a socialidade em um espaço/tempo de convivência que é a escola.Segundo a autora a socialidade é construída através da convivência com outros alunos próximos na idade, em viver o tempo da escola, compartilhar experiências da escola com os demais. Dessa forma faz-se necessário a compreensão da educação em seu significado mais amplo.
De acordo com Miguel Arroyo no artigo "Ciclos do desenvolvimento humano e Formação de Educadores" ,pensar em ciclos é organizar o conhecimento de acordo com as idades da vida - formação humana. Para isso é de essencial importância o entendimento de como são as fases, ciclos do desenvolvimento humano e ainda requalificar, ressignificar nossos conceitos de educadores. Para o autor educar é: humanizar, formar valores, hábitos, identidades, produzir e aprender conhecimentos. Também defende o professor único (unidocência) para o ensino fundamental e destaca ainda os perigos das interpretações e da implantação da formação por ciclos quando não se tem claras suas intenções. Sandra Zákia no artigo "Avaliação, ciclos e qualidade do Ensino Fundamental: uma relação a ser construída"discute a avaliação na escola organizada em ciclos e sua importância para a formação escolar na qual as propostas de ação devem partir da observação para a análise crítica. De acordo com ela, devem ser analisados/avaliados: os conteúdos e os processos de ensino, as condições de trabalho, as dinâmicas e relações, os recursos materiais e físicos, a articulação da escola com a comunidade e, além disso, todas as atividades devem ter referência no Projeto Político Pedagógico da escola. Também fala da necessidade de mudar a concepção de ensino para enfatizar a formação individual e social do sujeito e que os resultados devem servir para a reflexão e o aprimoramento das ações de ensino.
As discussões sobre mudanças no sistema educacional brasileiro começou em meados do séc. XX. Até então, os estudos já eram motivos de preocupação. Encontros e Conferências discutiam meios de ofertar ensino público gratuito que atingisse a massa populacional ao mesmo tempo que não acarretasse mais gastos ao governo. Uma das primeiras opções discutidas foi a "progressão automática" dos alunos nas séries iniciais. Contudo, as propostas não atingem todo o sistema educacional e apenas alguns estados arriscam implantar novas formas de organização escolar. Em 1958, o Rio Grande do Sul, mais tarde Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro também fizeram tentativas de implantação de ciclos. Mas só nos anos 90, com as experiências de São Paulo e Belo Horizonte essas novas propostas ganharam mais notoriedade nacional. A partir daí, também ganharam voga a visão construtivista do ensino e das fases do desenvolvimento da criança. A implantação dos ciclos já poderia ocorrer segundo a LDB de 1971, reforçada pela LDB 9394/96 enfocando o processo de aprendizagem e o direito à cidadania dos educandos. Seu princípio norteador é o de que "toda criança é capaz de aprender se lhe for oferecida condições, tempo e recursos capazes de exercitar suas competências ao interagir com o conhecimento" segundo Barreto e Mitrullis no artigo "Os ciclos escolares: elementos de uma trajetória".
Gradualmente as redes municipais e estaduais vão se adaptando e se reorganizando em torno da formação em ciclos convergindo ideias e "construindo novas propostas" que democratizem e ensino e o acesso ao ensino fundamental. Porém, segundo as autoras Barreto e Mitrullis ainda há duas grandes barreiras para que o ensino em ciclos possa se firmar como uma proposta inovadora. Uma delas se refere às "condições" para a implantação dos ciclos - organização interna das escolas, formação de professores, bases pedagógicas definidas - e também a organização gestora do ensino. A segunda questão é a que se refere às "representações sociais e da cultura pedagógica" que, de acordo com as autoras encontram-se os maiores desafios, pois, faz-se necessário mudanças conceituais, nos diversos segmentos sociais: nos órgãos gestores do ensino, nas instituições e seus segmentos e ainda, primordialmente nas famílias, que devem entender os ciclos como uma forma positiva de crescimento e inclusão social e cultural de seus filhos.

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