segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A gramática do aluno e o ensino produtivo

Há muito acredita-se que podemos ensinar muitas coisas através da repetição e do exemplo. Em muitos casos é assim que acontece, porém no ensino de línguas essa concepção, que enfatiza sob diversos aspectos esses elementos, vem desaparecendo a medida que observamos sua ineficiência por se distanciar das práticas cotidianas.
Um importante linguista francês, André Cousinet, já nos meados do século passado, insistia no fato de que cabia a nós, professores de línguas, ajudar nossos alunos a fazer o papel do linguista: além do próprio uso da língua, observar, observar, observar, e refletir sobre o observado. Depois, registrar essa reflexão de algum modo, se for necessário. (TP2 p.21)
Sendo assim, um dos caminhos possíveis são propostas de atividades que possibilitem aos usuários-aprendizes refletir sobre o que leem e produzem. Atividades nas quais possam testar diferentes possibilidades de usos linguísticos, e a partir desses usos, identificados como possíveis discutirmos as adequações. Dessa forma, exploramos os conhecimentos linguísticos internalizados dos falantes, oportunizamos reflexões pautadas em possibilidades de usos, levando-os a (re)produzir versões para um mesmo texto. Praticar e discutir os usos adequados de cada possibilidade ampliará a gramática interna, implícita, de uso na língua viva e conduzirá à construção da competência de avaliar a adequabilidade da língua no cotidiano e na organização de suas falas (textos orais e escritos).
Basta lembrar que saber expressar-se numa não é simplesmente dominar o modo de estruturação de suas frases, mas é saber combinar essas unidades sintáticas em peças comunicativas eficientes, o que envolve a capacidade de adequar os enunciados às situações, aos objetivos da comunicação e às condições de interlocução. E tudo isso se integra na gramática. (TP2 p36-37).
Exemplo de atividade baseada na Gramática Descritiva ou Reflexiva:
Post Scriptum

Te vi na janela,
bela.
Uma fera de penhoar.
Que tipo mais qualquer,
pensei,
melhor uma fera de software.
Sérgio Caparelli
Atividade oral do texto-poema:

Quem viu alguém na janela? (pessoa verbal)
Quem é visto na janela? (análise semântica)
O que é penhoar? (uso dicionário)
Quem é bela, a janela? ( pontuação, uso da vírgula)
Como sabemos o sexo da pessoa que está na janela? (análise semântica – gênero)
O que quer dizer “que tipo mais qualquer”? (análise semântica – implícito)
O que é software? (estrangeirismos)
O que quer dizer a palavra fera nas duas situações? (linguagem figurada)
Qual o significado da palavra melhor naquele contexto? (análise semântica)
ATIVIDADES ESCRITAS
Outras possibilidades: DESAFIOS.
REESCRITA usando verbos relacionais – que aparecem elípticos no texto e podem ser inseridos em diferentes trechos(ser, estar, parecer).
REESCRITA trocando a palavra MELHOR por outra que não altere o significado do texto.
REESCRITA modificando o foco narrativo – de 1ª. para 3ª. pessoa.
REESCRITA utilizando o conectivo ENTÃO em algum trecho do texto sem modificar o sentido original do texto.
REESCRITA utilizando uma linguagem da internete, msn por exemplo, pois o texto supõem uma situação interlocutiva.
Esta atividade foi desenvolvida pelos cursistas de Barra do Bugres, Denise e Porto Estrela. Também foi compartilhada no Seminário de Acompanhamento com os formadores do grupo da professora Maria Rosa da UNB. Com alunos, recomendo a utilização de uma linguagem mais simplificada, por exemplo, quando for falar dos verbos relacionais, mencionar apenas a inserção de verbos. Já realizei a experiência com alunos da 2a. fase do 3o ciclo e o resultado foi bastante satisfatório.

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